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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Parada estratégica


Diante da paralisação temporária das pesquisas com variantes do H5N1 em protesto contra limitações sugeridas pelos Estados Unidos à divulgação dos resultados, especialistas discutem a importância dos estudos sobre a transmissão do vírus, responsável pela gripe aviária.

Por: Marcelo Garcia
Quais caminhos a ciência deve ou não deve trilhar? Volta e meia essa questão vem à tona e, nas últimas semanas, a comunidade científica e a sociedade têm discutido um novo dilema – e dos grandes, com pitadas de censura e até de bioterrorismo. A polêmica envolve dois estudos com cepas do vírus H5N1 (responsável pela gripe aviária) alteradas para que pudessem ser transmitidas entre mamíferos. Realizadas independentemente no Centro Erasmus de Roterdã (Holanda) e na Universidade de Wisconsin-Madison (Estados Unidos), as pesquisas foram submetidas à publicação nas revistas Nature e Science.
O Painel Consultivo sobre Biossegurança dos Estados Unidos (NSABB, na sigla em inglês) solicitou a publicação de versões modificadas dos artigos, por medo de as informações serem utilizadas para o bioterrorismo. Pesquisadores de todo o mundo decidiram, então, pela paralisação de 60 dias nos estudos com essas cepas, como forma de protestar e permitir o debate da questão.
A publicação de detalhes do estudo e da sequência genética das cepas obtidas é fundamental para que outros grupos passem a estudar o assunto
Para muitos especialistas, a publicação de detalhes do estudo e da sequência genética das cepas obtidas – que o NSABB quer omitir – é fundamental para que outros grupos passem a estudar o assunto, o que pode melhorar a compreensão dos mecanismos de mutação do H5N1.
No fim da última semana, surgiu um novo capítulo da polêmica: o virologista japonês Yoshihiro Kawaoka, um dos líderes da pesquisa realizada nos Estados Unidos, publicou, na Science, um artigo opinativo defendendo a segurança da abordagem e a urgência de sua retomada.
“Temos que estimular os estudos sobre transmissão de vírus de influenza altamente patogênicos com urgência”, defende no artigo. Kawaoka destaca o ineditismo de sua pesquisa, realizada com furões, ao evidenciar que o H5N1 poderia desenvolver a capacidade de ser transmitido entre mamíferos – e, talvez, entre humanos – por via aérea.
Apesar de as variantes desenvolvidas em laboratório não se mostrarem muito virulentas (não causando a morte de nenhum animal infectado), o japonês ressalta a dificuldade de prever o efeito dessas cepas sobre o homem e a importância da vigilância. “Observamos algumas das mutações necessárias para a transmissibilidade do vírus em cepas circulantes, por isso, é preciso intensificar o monitoramento”, diz. “Acredito que seja uma irresponsabilidade não estudar e entender os mecanismos de mutação.”


Artigos sob avaliação de revistas científicas podem ser fundamentais para compreender capacidade de mutação do vírus da gripe aviária. (foto: MEDICAL RF.COM/SPL)

Kawaoka também refuta os argumentos do NSABB. A ameaça do bioterrorismo não seria justificativa para restringir a divulgação dos resultados, uma vez que já há muito conhecimento sobre o vírus publicado. A proposta do governo americano para resguardar a confidencialidade dos dados – seu repasse apenas para indivíduos selecionados – também é criticada, pois essa seleção tomaria muito tempo e não impediria o vazamento das informações. “Já a divulgação na íntegra do estudo poderia atrair a atenção de pesquisadores de outras áreas para essa
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2012/01/parada-estrategica

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